A cidade, a torre e a dicotomia de Deus

    No livro de Gênesis 11:1-9, o autor relata que já houve um tempo em que todos os habitantes da Terra falavam o mesmo idioma.  Em certo momento da história, os descendentes de Noé decidiram, juntamente, levantar um edifício, talvez, o primeiro conjunto habitacional que se tem conhecimento.
     A intenção de tal ato, infelizmente não era a mesma que muitos tem hoje, que é oferecer moradia para as pessoas em meio a metrópoles territorialmente pequenas e extremamente populosas, ato este de pura solidariedade e compaixão.
    Pelo contrário, o ato foi movido pelo medo constante que povoava seus pensamentos: ameaça de extermínio da raça humana.
     O recente acontecimento do dilúvio, havia ocorrido há apenas algumas gerações antes daquela e de fato, deixou apenas Noé e sua família como sobreviventes no mundo.

    - Se ocorreu uma vez, por que não poderia ocorrer de novo ?
    - Se acaso, Deus se irritar novamente com a humanidade ?
    - Se errarmos, o castigo poderá ser o mesmo?

   Dúvidas, desconfianças, suposições, incertezas, perguntas sem respostas sobre um Deus com "pavio curto", um "tirano" que pode encerrar com toda a humanidade em pouco tempo caso não  "agradar-se" dela.
   Sabemos que o medo é uma emoção que libera vários neurotransmissores criando em nosso corpo um intenso estado de alerta, fuga ou luta, exatamente tudo o que precisamos para iniciar um ato desesperado de rebeldia.
      Em meio a essa sensação de ameaça constante é que nasceu a ideia da torre. A verdadeira intenção de sua construção, conforme o relato bíblico, era  "deixá-los famosos", em outras palavras, fazê-los conhecidos a nível mundial por sua força, grandeza e poder que seriam confirmados, simbolicamente, pela imponente construção do mais alto edifício já visto.
   Durante seu planejamento, em relação as suas dimensões, as intenções de seus construtores ficou ainda mais clara, não foram mencionados quantos côvados, metros ou qualquer outra unidade de medida teria a torre, apenas que ela seria excessivamente alta para que o "cume tocasse o céu" (Gêneses 11:4).
     Hoje sabemos que isso é impossível, já que o céu não apresenta limites físicos que possam ser humanamente alcançados, acredito que também sabiam disso nossos amigos da torre, então, quais eram suas verdadeiras pretensões ?
      A realidade é que não desejavam de fato construir uma torre tão alta, senão seriam somente um bando de malucos, mas apenas que ela fosse alta o suficiente a ponto de metaforicamente representar que: 
    -  Juntos, podemos ser tão fortes e poderosos quanto Deus, portanto, não poderá nos exterminar tão facilmente.

     Acredito não ser fácil manter um pensamento como este por muito tempo sendo nós, humanos, tão fracos e pequenos, logo a realidade os resgataria a um nível maior de consciência, mas finalizar uma torre como esta e vê-la acabada, certamente ajudá-los-ia a manter esta crença de maneira tão permanente quanto a própria torre pudesse manter-se em pé. 

      Bom, obviamente que Deus não permitiu que isso ocorresse e através da confusão das línguas estabeleceu uma simples barreira de comunicação interrompendo a edificação.

     Você já viu em sua vida cotidiana, ou ficou sabendo de pessoas as quais foram corrigidas de forma drástica por Deus ? Você viu a correção , e achou  que ela teve proporções exageradas ? Você, pela forma brusca com que essa pessoa foi disciplinada chegou a duvidar que Deus era bom ? Ou até mesmo, temeu que o mesmo ocorresse com você? Isso fez você ficar com medo de Deus? 
    Se sua resposta foi sim para todas essas perguntas , então acabamos de delinear em você a cadência de pensamentos que tiveram aquele povo, naquela época, quando a notícia de um dilúvio ainda era um fresco acontecimento.
       Esses questionamentos surgem, pois muitas vezes , estamos olhando a colheita , porém não o plantio. A consequência e não a causa, a reação e  não a ação , o resultado e não o processo, o final mas não o começo.

            Qualquer história que contemos tem começo, meio e fim, porém, não buscamos lê-la toda, mas a fragmentamos quando damos ênfase a apenas uma parte dela.
         Se eu contar á você, por exemplo, que houve um homem que morreu crucificado injustamente no século I, você ficará muito triste, mas, se eu disser que, após isso ele ressuscitou, você ficará feliz e ao mesmo tempo intrigado. É provável que irá querer saber como ou porque e algumas dúvidas surgirão, então eu terei que lhe contar o começo de tudo, para que você possa entender completamente o que eu disse.
         Façamos agora o seguinte exercício: Se eu contar á você, por exemplo, que houve uma grande enchente na terra há milhares de anos a qual matou praticamente toda a humanidade, você ficará muito triste, mas se eu disser que, uma família idônea foi preservada para repovoar a terra e continuar a vida, você ficará feliz e ao mesmo tempo intrigado. É provável que irá querer saber como ou porque e algumas dúvidas surgirão, então eu terei que lhe contar o começo de tudo, para que você possa entender completamente o que eu disse.
        Histórias e fragmentos de histórias, dependendo de onde você para de contá-la Deus pode ser extremamente ruim, pois permitiu um dilúvio terrível que quase exterminou a humanidade, ou Deus pode ser extremamente bom, pois deu aos que sobreviveram (Noé e sua família) uma nova oportunidade de continuarem a vida na terra, e aos que não sobreviveram , uma nova oportunidade, após morte e ressurreição de Jesus, de terem uma nova vida no céu.

E então ? Qual é a leitura dessa palavra que faz mais sentido para você , a leitura completa ou a fragmentada ?

Filipenses 1:6 

" Pois, estou certo que aquele que começou a boa obra em vós , irá completá-la até o dia de Jesus Cristo"